Tudo sobre timidez (embasado pela ciência)

O que você precisa saber sobre timidez organizado de forma prática, com informações científicas e relatos de casos reais.
Medically Reviewed by
Dr Hamilton

Como especialista em neurociências e tímido, percebi que fontes de informações sobre timidez com qualidade e com validade científica eram escassas. E isto tem impedido que muitas pessoas compreendam a timidez e como podem melhorar.

Minha história com a timidez começou quando eu tinha 9 anos. Em uma festinha organizada na escola, os alunos foram orientados a formar um grande círculo na sala de aula e cada um deveria falar um pouco sobre si mesmo. Quando chegou a minha vez, eu já estava com as mãos frias e nem prestava mais atenção ao que os últimos colegas tinham falado.

Quando eu disse que era tímido, todos caíram na gargalhada.

Mas como eu continuei sério, em seguida vieram as perguntas: você, tímido?

A dúvida era compreensível, pois eu era um aluno falante, o que hoje talvez fosse diagnosticado como hiperativo. Mas ninguém poderia saber como eu me sentia por dentro. Ninguém poderia saber que eu também estava enfrentando meus medos devido à timidez.

Estas dificuldades para compreender a timidez persistem até hoje. Foi por este motivo, que decide reunir neste artigo tudo que você precisa saber sobre timidez, de forma prática e usando as melhores evidências científicas.

Para descobrir mais sobre timidez, faça a si mesmo estas perguntas: As pessoas frequentemente comentam que você é tímido, quieto ou pouco acessível? Você morre de vergonha de levantar a mão e fazer uma pergunta em sala de aula? Odeia ter que apresentar-se nas reuniões da empresa? Quando vai a uma festa, fica num canto e evita falar com desconhecidos? Na rua, abaixa os olhos ao passar por estranhos?

Se você respondeu "sim" a pelo menos uma destas perguntas, não se preocupe. Isso apenas significa que você faz parte de um grupo grande de pessoas que possui algum grau de timidez.

Este grupo representa metade da população. Isso mesmo. Uma pesquisa recente indicou que a porcentagem de pessoas com timidez é de aproximadamente 50%1.

A timidez está presente na vida de tantas pessoas, que é surpreendente o quão pouco ela é compreendida.

Comece pela a origem da palavra. A termo timidez vem da palavra latina timeō, que significa medo. Desta forma fica mais fácil entender como 50% das pessoas possui algum grau de timidez. Afinal, quem não tem um pouco de medo?

O que é timidez?

A timidez é um padrão de comportamento, pensamentos e emoções que geram desconforto ou inibição em situações de interação pessoal2.

De forma simplificada, timidez é experimentar algum grau de medo em situações sociais.

O medo é um importante mecanismo de proteção. Ele ajuda a estabelecer limites seguros. O medo em situações, ou seja, a timidez, é mecanismo natural necessário na sociedade.

Se não houvesse nenhuma inibição na vida em grupo aconteceriam diversos problemas de convivência.

Como, por exemplo, entrar na casa dos outros sem pedir licença ou mesmo sem precisar de um convite.

Então pode-se dizer que a timidez age, também, como um mecanismo regulador, ela evita situações indesejadas. Aquelas pessoas que não têm um pouco de timidez podem ser inadequadas, pois cometem atos que fogem ao padrão de convívio social. Um pouco de timidez é comum a todas as pessoas, e pode ser sim, benéfico.

Quando a timidez não é um problema?

Uma pesquisa recente demonstrou que a habilidade considerada mais importante para o sucesso é a comunicação. Esta pesquisa somente confirmou o que os cientistas já sabiam: o ser humano é profundamente social, inclusive, o cérebro cresceu e evoluiu para melhorar as habilidades sociais e de comunicação.

E no mundo de hoje estas habilidades estão em mais evidência do que nunca.

A expressão de idéias e as interações sociais estão supervalorizadas. Esta supervalorização começou com o advento da televisão e continuou progredindo até a superexposição criada pelas redes sociais, como o Facebook, e pelos sites de vídeo, como o Youtube. É como se cada pessoa tivesse seu canal particular de veiculação e propaganda, mas para participar, teria que assistir aos canais de todos a sua volta.

Expressar idéias e interagir socialmente não são coisas ruins, mas o fato da era atual supervalorizar estes comportamentos teve como efeito colateral a desvalorização de comportamentos mais reservados e introvertidos.

Criou-se um julgamento negativo sobre comportamentos de introversão e das pessoas mais quietas, como bem caracteriza o livro "O Poder dos Quietos", da autora Susan Cain3.

Ser uma pessoa introvertida, quieta ou mais reservada não significa algo ruim. Existe uma diferença entre timidez e introversão, e é muito importante conhecê-la. O excelente artigo "Você é tímido, introvertido, ambos ou nenhum? E por que isto importa?" explica que a maior diferença é o prejuízo causado pela timidez, impedindo a pessoa de perseguir seus sonhos.

Quando a timidez é um problema?

A timidez é um problema quando ela impõe barreiras que impeçam a conquista dos seus objetivos, sejam eles profissionais, pessoais ou sociais.

Para descobrir se a timidez é um problema para você, existem 7 questões para você refletir:

  1. Seja realmente honesto consigo mesmo, você está em seu emprego ou curso atual porque desta forma não precisa lidar com situações sociais desconfortáveis?
  2. Se não está trabalhando ou estudando, você tem evitado buscar novas oportunidades devido ao medo de interagir com outras pessoas ou devido ao receio de ficar ansioso em uma entrevista de emprego?
  3. Você não está namorando ou saindo com alguém porque pensa que pode ficar com ansiedade durante um encontro ou porque tem medo do que pode acontecer se convidar alguém para sair?
  4. Você se sente nervoso (sua voz fica trêmula, embargada ou chega a sentir falta de ar) falando para outras pessoas?
  5. Você se preocupa antecipadamente ou chega a perder noites de sono quando precisa fazer uma apresentação em público?
  6. Você tem dificuldades em expressar sua opinião ou pedir por algo que acredita merecer porque se preocupa com o que as pessoas irão pensar sobre você?
  7. Você gostaria de interagir e conviver mais com outras pessoas, mas tem dúvidas se realmente vai conseguir por se sentir muito tímido?

São questões que exigem um tempo para reflexão e um grau de honestidade consigo mesmo, mas se você respondeu "sim" a pelo menos uma delas, a timidez tem impedido que você realize seus objetivos.

É interessante perceber que a timidez pode estar presentes em algumas situações, mas não em outras.

Existem pessoas comunicativas, que vivem cercadas de amigos, mas suam frio ao pensar que precisam fazer uma apresentação. Outras fazem apresentações fantásticas, mas tem dificuldade em convidar alguém para um encontro.

Independente das situações, a maioria das pessoas tímidas não percebe o impacto da timidez, não reclama de suas dificuldades e acaba por se fechar em seu mundo. Pode-se dizer que a timidez é uma pedra, que se carrega em silêncio, impedindo que a pessoa alce vôos mais altos.

Além de uma grande barreira para conquistar sonhos e objetivos, a timidez tem duas profundas consequências negativas:

  1. Maior incidência de problemas de saúde devido a falta de uma rede social de suporte e também dificuldades de expressar aos profissionais de saúde sobre assuntos delicados ou íntimos.
  2. Menor renda financeira devido a posicionamento em cargos inadequados, dificuldade em pedir aumentos, problemas com entrevistas de emprego e limitação no avanço da carreira para posições que demandem maiores habilidades de comunicação, interação e liderança.

Se a timidez persiste no decorrer dos anos, estas consequências negativas em conjunto, levam a um isolamento social crônico, gerando solidão extrema, prejuízos psicopatológicos e até mesmo redução na expectativa de vida4.

Como, apesar de suas consequências negativas, a timidez pode passar desapercebida e seguir prejudicando a vida 50% da população mundial?

A resposta está soma de dois componentes: a desinformação e o comportamento gerados pela própria timidez.

A desinformação é um conjunto de falsas crenças estabelecidas como verdade, a ponto de não serem sequer questionadas. As crenças estão na cabeça de todos, não somente dos tímidos.

A maior crença falsa é que as pessoas nascem com timidez, e por isto, não podem mudar. Este pensamento não possui nenhum embasamento científico.

As literatura científica aponta que a origem da timidez é a interação entre predisposições genéticas e experiências de vida. Nascer com características mais reservadas, menos responsivo a interações sociais e com maior tendência a ansiedade geralmente leva a menos interações com pais, irmãos, familiares e colegas, criando um padrão de timidez. Enquanto algumas crianças com timidez, superam este padrão com o tempo, outras permanecem com timidez na vida adulta.

Em casos completamente diferentes, crianças que nunca apresentaram timidez, desenvolvem timidez na vida adulta, usualmente devido a experiências de vida que foram traumáticas, como rejeição, baixa auto-estima e medo de falhar em papéis sociais.

A conclusão da ciência é que as pessoas não nascem tímidas. A timidez pode ser superada.

Esta é uma conclusão que deve ser utilizada como ponto de partida.  Uma alavanca. Você não será mais vítima da desinformação. Não precisa mais acreditar que a timidez é algo impossível de ser mudado.

O próximo passo é entender Como vencer a timidez.

References

1. Carducci, B. J., & Zimbardo, P. G. 1995. Are you shy? Psychology Today.

2. Jones, W. H., Cheek, J. M., & Briggs, S. R. (Eds.). 1986. Shyness: Perspectives on research and treatment. Plenum.

3. Cain, S. 2012. O poder dos quietos: Como os tímidos e introvertidos podem mudar o mundo que não para de falar. Editora Agir.

4. Crozier, W. R. 1990. Shyness and embarrassment: Perspectives from social psychology. New York: Cambridge University Press.

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